Role para continuar
Depois de horas caminhando pela selva sufocante e úmida, o ar fresco desta cripta subterrânea é revigorante. Obviamente, a morte está à espreita a cada passo dado, mas a glória também.
Eu passo por baixo de um arco de pedra e nuvens de poeira surgem como fantasmas, revelando um caminho de padrões circulares esculpido na pedra. Dizem que esta tumba é impenetrável, indestrutível e mortal. Nenhum explorador jamais conseguiu escapar com vida, porém, nenhum deles era eu.
Até agora eu desbravei quilômetros de túneis em labirintos, passei por armadilhas de areia cheias de espinhos, me arrastei por baixo de pêndulos cortantes e enfrentei víboras peçonhentas. Este lugar é legal para visitar, mas eu não gostaria de morar aqui.
Dúzias de olhos de pedra cravados nas paredes me lançam olhares maliciosos. Bom, eu faria a mesma coisa. Aposto que eles não veem alguém tão incrivelmente belo desde a última Guerra Rúnica.
No centro da sala, um pequeno frasco de cristal repousa sobre um pedestal. Ele brilha com um fluido cintilante que reflete pequenos arco-íris no chão. Foi isso que eu vim buscar. Muitas podem até considerar um grandioso conto de aventuras como uma mera ficção, mas não há como negar um artefato físico. Recuperar tesouros lendários prova, sem dúvida alguma, que você conquistou o impossível.
O Elixir de Uloa é procurado por cultos que desejam se imbuir com a imortalidade, dinastias que querem retomar o poder e peregrinos que buscam a sabedoria além da crença. São tantas promessas para um frasco cujo conteúdo não conseguiria encher nem uma colher de chá.
Eu sei que todas as armadilhas possíveis e imagináveis serão acionadas assim que eu o retirar do pedestal. É assim que lugares como este funcionam. Flexiono meus dedos e a gema no centro da minha manopla emite uma magnífica luz azul celeste. Agora vai começar a diversão.
Me aproximo lentamente. Piso em uma pedra vacilante e recuo para evitar acionar uma armadilha. Atravesso a sala cuidadosamente, pisando somente nas pedras mais firmes. Ao segurar o Elixir com as mãos, profundas rachaduras começam a surgir no solo da câmara. Eu ativo minha manopla, carregando-a com energia mágica. Um turbilhão de raios de luz ofuscam minha visão enquanto eu me teletransporto para o vão do arco a cinco metros de distância dali. No momento exato. Enquanto o lugar começa a desmoronar e se esvair pela fenda, centenas de estacas afiadas como facas caem do teto e por um triz não me atingem.
O poder da minha manopla é perfeito para lugares apertados, mas não é muito útil quando preciso percorrer longas distâncias. E demora mais do que eu gostaria para recarregar.
Um estrondo abala as paredes e ecoa pelo corredor. Parece que as milenares fundações desta tumba não vão se sustentar por muito tempo, então é melhor acelerar as coisas. Como eu prefiro pisar em terra firme e manter meus pés bem colados no chão, corro pelo túnel enquanto as imensas rachaduras destroem o chão onde acabei de pisar.
Sigo os sinais indicativos que desenhei quando entrei na tumba, deslizando por baixo dos arcos que desmoronam, pulando sobre areia movediça agitada e desviando das pedras gigantes que rolam para bloquear a passagem cada vez mais estreita.
Uma rachadura surge na parede à minha direita e uma horda de insetos enormes avança, mordendo com suas tenazes gigantes e veneno pingando de suas mandíbulas. Milhares de aranhas com olhos vermelhos me encaram famintas, enquanto escorpiões atentos mantêm seus ferrões a postos. Esses insetos da selva são uma praga, mas eu tenho o pesticida perfeito!
Fecho meus olhos por um milésimo de segundo. A energia flui pelo meu braço, sacudindo meus nervos com uma batida pulsante enquanto eu concentro o poder no interior da gema. Eu estabilizo minha manopla e miro na maior aranha. Quando o monstro abre sua mandíbula, eu lanço um raio ardente em sua boca que o empurra violentamente em direção à horda rastejante. O cheiro de quitina queimada faz arder minha garganta e revira meu estômago.
Eu me viro para correr e lanço raios ofuscantes de luz a cada curva da passagem. Uma lasca de pedra do tamanho de uma casa se desprende do teto bem acima da minha cabeça. Minha manopla recarrega bem na hora e eu reapareço a três metros de distância em um espiral de luz enquanto o túnel desaba atrás de mim.
Dois pilares vacilantes tombam na direção um do outro e eu consigo deslizar por entre eles um segundo antes de eles virarem pó. Entro em uma câmara que tem o chão inclinado em direção à superfície.
Uma fresta de raio de sol brilha logo à frente e eu solto um leve sorriso enquanto avanço em sua direção. A liberdade está próxima. O chão treme com um estrondo ensurdecedor e eu tropeço ao tentar correr enquanto a câmara desmorona bem na minha frente. A liberdade estava próxima.
Tudo bem, fazer planos de emergência é uma das minhas especialidades.
Preparo minha manopla e concentro toda a minha energia na gema. Sinto que ela suga o meu poder. Minha visão escurece e o mundo parece dar voltas enquanto a gema se enche de magia. A manopla pulsa um azul da cor do céu.
Ao abrir minha mão, um brilhante arco de luz dourada tão largo quanto o túnel irrompe da minha palma. A força da explosão me deixa atordoado, mas consigo manter o foco. Formando um brilhante e contínuo canal, a brilhante luz emana e desintegra tudo pela frente, abrindo uma brecha perigosamente estreita. Meu tipo de brecha preferido!
Cerro meu punho e o túnel escurece mais uma vez. O chão treme desconfortavelmente, me fazendo cair de joelhos. Estou tão cansado que mal consigo me mexer, muito menos ficar em pé. A poucos centímetros do meu rosto, rachaduras se alastram pelo solo aceleradamente. Isso não é bom. Essa tumba não vai se sustentar por muito tempo. Reúno o restante das minhas forças para me levantar e correr em direção ao que espero ser um local seguro.
Não consigo mais ver a luz do sol. Outro estrondo - as paredes desabam ao meu redor. Fecho os olhos e me jogo no buraco. Não há nada de errado em esperar um pouco de sorte e eu sou um bocado sortudo. Ao cair no chão, me levanto e respiro o doce ar da selva.
Atrás de mim, a entrada da caverna desmorona completamente, liberando uma esvoaçante nuvem de poeira milenar. Limpo a sujeira das minhas roupas, afasto o cabelo dos olhos com um gesto habitual e saio andando.
Outra ruína impossível superada. Outro tesouro para provar a verdade dos meus contos fantásticos.
E tudo isso antes da hora do almoço.